A Ascensão dos “Humildes” e as “Tramas” das Famílias:
Por: Sônia Cunha
Uma Reflexão Sobre Porto Nacional Ah, Porto Nacional!
A terra onde os humildes finalmente mostraram sua força, segundo o jovem Fábio Dedão. O rapaz veio a público no último domingo vibrar com a reeleição de Ronivon Maciel, trazendo à tona um discurso inflamado que exalta os que “trabalham por quem mais precisa”.
O recado é claro: os poderosos tradicionais, com sobrenomes ilustres, não detêm mais a moralidade nesta cidade. Ou será que não? Vamos fazer uma rápida avaliação sobre o que realmente se passa nessa terra normativamente desenhada por laços familiares, onde “humildes” e “tradicionais” não estão necessariamente distantes, mas entrelaçados como os fios de um antigo tapete.
Fábio parece ignorar, em seu fervor, que Porto Nacional tem mais de 280 anos de história e que, nas raízes desse solo, as famílias se entrelaçam e se apoiam umas às outras como um verdadeiro mosaico de interesses políticos.
O vereador Miudo, por exemplo, não foi lá uma “aposta” espontânea; ele foi “plantado” pela mão certeira de Otoniel Andrade, um nome que já traz peso por si só em decorrência da sua vasta experiência política.
A senhorita Duerita Neta, uma figura que poderia protagonizar a novela das “novas gerações”, é, pasmem, herdeira do legado político da casa de seus pais, ambos com os pés enfincados na política (pai de vereados a vice-prefeito e reeleito no último domingo ao mesmo cargo e a mãe dela, atual vereadora).
Quer mais exemplos? Tem sim senhor! A teia de alianças continua a se expandir, revelando um intrincado jogo onde a zeradinha de sobrenomes tradicionais encontra os “humildes” em um baseado equilíbrio de poder.
É quase como se Porto tivesse um manual que diz: “Se você não tem sobrenome, escolha bem com quem se aliar.” E claro, não podemos deixar de mencionar o próprio Ronivon, que iniciou sua caminhada política como uma “aposta” do PT.
Ele, que na verdade se tornou um maestro dessa sinfonia de famílias, ora dançando ao lado de Joaquim Maia, ora se utilizando de sua coligação com o deputado Gaguim, genro do empresário Batista Pereira que, também acreditaram no potencial do contador e vereador Geylson Neres e também o deputado estadual Waldemar Júnior; autênticos pilares da tradição portuense.
Assim, o recado final que depositamos nas linhas dessa reflexão é que a moral bandeada por Fábio Dedão deve ser um pouco mais matizada. O que a população de Porto Nacional realmente demonstrou foi uma habilidade notável de navegar através das correntes familiares, escolhendo, assim como um artista seleciona sua paleta de cores, as alianças que mais lhe convêm.
Sob esse clima de reverberações, a questão é: será que a reeleição de Ronivon Maciel é realmente a vitória do humilde sobre os poderosos, ou simplesmente mais uma página na crônica interminável das tradições por trás dos nomes? Vamos celebrar essa nova configuração política, mas sempre com um pé atrás, porque, em Porto Nacional, as melhores cartas são jogadas quando estamos todos sentados à mesa, mesmo quando o jogo parece ser de humildade.
Abraços de uma mera analista de discursos a todos que leram até aqui. Sonia Cunha Servidora pública municipal, Mestra em Letras com ênfase em Análise de Discursos pela Universidade Federal do Tocantins

